26 de outubro de 2012

Turismaldamente!(II) / Ágora / Novo Jornal nº249/ Luanda 26-10-2012





Turismaldamente!(II)
Voltando à BITUR, importa referir que os relatórios da Organização Mundial de Turismo apontam para pouco mais de 5% o número de turistas anuais no nosso continente, contra os 54% da Europa, os 5% do Médio Oriente, 15% no continente americano e 21% na região Asia/ Pacífico.
Dos discutíveis 5% que cabe ao nosso continente, o Egipto e a Republica da Africa do Sul partilham os primeiros lugares no acolhimento pontual de visitantes, deixando o resto em valores quase residuais para os outros países onde se salientam as Maldivas, Seychelles, Quénia, Moçambique, etc.
Com o proverbial hábito do angolano na hiperbolização dos números estimados, logo se apontaram metas que como na maior parte das situações pecam por demasiado exagero.
“Angola é o segundo destino turístico em número de vistos a seguir à Nigéria no continente africano”, “Estimamos num curto espaço de tempo acolher quatro milhões de turistas ano”, “ ressaltadas as enormes potencialidades do País em termos de turismo”, “Angola com infraestruturas para fazer face a exigências de turismo de qualidade” foram algumas das muitas frases ditas, repetidas e que se ousaram proferir durante o evento.
Este é um tema aliciante para um grande debate e não para uma crónica avulsa como esta, pois a realidade no terreno está cada vez mais longe desta mirífica linguagem.
Angola tem mar, sol, paisagem, rios, vegetação, fauna diversa, gente acolhedora e estabilidade política. Os condimentos indispensáveis para um turismo de qualidade parecem que estão todos reunidos. Pura estultícia.
Deixemo-nos de chauvinismos pueris porque sobejam exemplos de desordenamento do território que vão inibir a oferta turística do País durante muito tempo.
Um dos exemplos inerentes ao desordenamento do território tem a ver com os desmandos que a indústria do petróleo faz em toda a costa de Benguela a norte, e que tem vindo a transformar as “idílicas” areias de águas tépidas da costa de Angola numa mistura hidrocarbonada de água do mar. Acresce a tudo isto que os barcos petroleiros e cargueiros aproveitam a falta de fiscalização do nosso território marítimo para lavarem porões e depositarem detritos que se alojam ao longo da costa. Quando se tenta compatibilizar uma refinaria, como a que está em construção no Lobito com as qualidades das praias das redondezas temos que convir que o resultado é no mínimo uma bizarrice angolana.
A sul de Benguela as águas são frias, e naturalmente que haverá na costa africana muito mais opções, mais baratas e melhor localizadas para o chamado turismo de sol e mar.
Importa referir que Angola fica “longe” da Europa, principal “municiador” da indústria turística, e só franjas muito residuais poderão acabar por ser seduzidas pelo apelo ao turismo no País.
Formação de quadros, menos exigências burocráticas para a obtenção de vistos, melhoria das acessibilidades aos locais de interesse turístico, diminuição gradual mas rápida da pobreza, erradicação de doenças propiciadores de pandemias, assistência médica ao nível da excelência, harmonização de tarifas aéreas e possibilidade de companhias de low-cost operarem em vários aeroportos do território, campanhas agressivas em mercados de grande procura turística e melhorar a apresentação de Angola nos pavilhões em certames internacionais de turismo, são apenas alguns exemplo só do muito que há a fazer para alterar o quase nada que há feito neste momento. Só nessa altura o Turismo poderá então ter veleidades para representar um dígito no PIB angolano.
Gostaria que houvesse um debate sobre este assunto e anuncio que numa crónica futura irei falar sobre o turismo solidário e sustentável no mundo e em Africa particularmente onde há exemplos muito interessantes e economicamente viáveis. Era uma via a ser observada com interesse porque começa a haver muitos parceiros e muitas adesões a um mercado com grande potencial nas próximas décadas.
“O espaço turístico é antes de mais uma imagem.” “Imagem complexa, sonhada, adormecida e que reflete pinturas, livros, roteiros, filmes, odores, sons, sensações, enfim as experiencia e o imaginário de cada individuo” Jean-Marie Miossec.

Fernando Pereira
17/10/2012

Turismaldamente I/Ágora/ Novo Jornal 248 / Luanda 19-10-2012




Encerrou a 1ª Bolsa Internacional de Turismo de Luanda (BITUR), organizada no âmbito da programação anual das Feiras e Exposições que vão mostrando o trabalho desenvolvido em múltiplas áreas de intervenção económica.
Porque é uma área que tenho acompanhado de perto, nem que apenas seja porque partilho a gestão de uma pequena unidade de “turismo de habitação” nos contrafortes do Parque Natural da Serra da Estrela no interior de Portugal.
Pelas imagens que vi, pelo conjunto de informações que saiam em catadupa na imprensa e na internet, a sensação com que fiquei foi que o certame correu acima das expectativas, e que há neste momento alguma motivação extra para que as potencialidades do País sirvam para propiciar receitas acrescidas numa industria que tem um peso residual no quadro global.
Desde que o Homem se tornou sedentário, começou a sentir uma enorme necessidade de evasão e, ao mesmo tempo, uma forte curiosidade de contactar com outras terras e outras gentes, que só conhecia através dos contadores de histórias. Este apelo à viagem talvez tenha a ver com o facto de durante milhões de anos o homem e seus ascendentes terem sido nómadas. É neste contexto, de necessidade de evasão/curiosidade de conhecer, que reside a base do turismo moderno.
O fenómeno turístico é, em termos conceptuais, um fenómeno que tem acompanhado a evolução, o uso do tempo e o conceito de lazer.
O uso do tempo está, diretamente relacionado com a organização das estruturas socioeconómicas da sociedade. Já as civilizações clássicas tiveram a sua forma de utilizar o tempo e a praticar o lazer – o termalismo. As termas (Spas como modernamente são chamadas) eram utilizadas não só como aspeto terapêutico, mas também sob o aspeto lúdico.
Com a queda do Império Romano, e até ao final da recessão medieval (Sec. XIV), as pressões de caracter religioso e social, associados a grandes epidemias que contagiavam as águas, conduziram a um progressivo abandono do termalismo e em seu lugar surgem as peregrinações a lugares de culto, onde havia sempre “Santos” para receber os seus prosélitos, então únicos turistas dignos desse nome.
O período mediado entre o seculo XIV até ao seculo XVVIII é caracterizado pelo desejo de conhecer mundo. Numa base de aventura e comércio, a que também começa a associar-se a prática de atividades lúdicas.
O seculo XVIII é sem dúvida, uma época de grande mudança para o turismo. A partir de então este começa a organizar-se e a sistematizar-se. O que hoje existe é o resultado da evolução do que se passou nesse tempo.
A palavra turismo constituiu-se a partir do vocábulo inglês “The tour”, ou seja volta ou ida, com retorno ao ponto de partida. Este “tour” designava a viagem que o jovem aristocrático britânico fazia no final dos seus estudos académicos. Esta viagem era por norma realizada à França, Itália ou à Grécia com o objetivo de complementar a sua formação.
Após a Revolução Industrial, a burguesia, detentora de um grande poder económico, possuía um enorme fascínio pelos valores e hábitos da aristocracia, e para a imitar começou a enviar os seus filhos para os melhores colégios da Europa, e no final lá vinha a tal viagem. O fascínio por Paris era grande já que era o local privilegiado pela aristocracia.
O turismo surge intimamente ligado ao crescimento económico concomitante com o nascimento da civilização industrial ocidental.
Com o fim da IIª Guerra Mundial, num quadro de grande dinâmica económica e com as alterações no domínio social, nomeadamente férias remuneradas, o reforço das acessibilidades (transporte ferroviário, rodoviário, aviação, vulgarização do automóvel particular),a escolaridade obrigatória, em suma a melhoria generalizada da qualidade de vida nos países industrializados leva aquilo que hoje se designa correntemente pela massificação do turismo.
O progressivo sucesso da atividade turística reside, não só no desenvolvimento socioeconómico e cultural das sociedades modernas mas também no crescente aumento do tempo livre.
(Continua no próximo numero)
Related Posts with Thumbnails