19 de junho de 2009

Diagnóstico/Ágora/ Novo Jornal/ Luanda 19/06/09



Com o advento do cacimbo, Luanda deixa de ir a banhos, e uns poucos vão procurando noutras latitudes encontros com outros banhistas, ou a verem se não levam banhos de alguns putativos investidores no País.
Desculpem este “intempestivo” intróito, mas vi um anúncio de umas casas numa urbanização a construir em Talatona, por sinal com publicidade aqui no jornal, que é só um exemplo entre muitos, que a massa crítica se começa a perder a um ritmo galopante, e que se aceita tudo mesmo, o que até já nos vai aviltando.
Esse anúncio promove uma casa “Estilo Europeu”, devendo nós considerar que só há duas alternativas na construção: o “Estilo Europeu” e o “Estilo Africano”, este ultimo cingindo-se a uma casa de pau a pique com paredes de adobe. Continuando o anúncio da empresa, com preços escandalosos, mesmo na escandalosamente cara Luanda, vemos umas fotos com muita verdura, riachos, lagos e piscinas, e nem sombra da terra vermelha de Luanda, e equipamento social por perto, pelo que é fácil prever, que também a terra das culturas do “tipo Europeu” serão importadas. Para rematar tudo isto apresentam-nos uma sala, do tipo mansão do sul esclavagista nos EUA, com uma lareira, algo que me parece indispensável na Luanda de hoje, quer pela agressividade do clima, quer pelo estatuto que um objecto destes dá ao seu proprietário.
Confesso que fiquei perplexo com a publicidade ao empreendimento, que me recuso a divulgar, mas que comparo em mau gosto, ao anúncio da UNITEL na TPA, em que um trajado de JEEP (Jovem Empresário de Elevado Potencial), numa secretária com poucos papéis, “viaja sonhando” em volta de um telemóvel, enquanto uma zelosa e fardada empregada, vai limpando com um espanador todo o escritório; Mau demais, mas talvez por isso a mensagem seja mais facilmente apreendida, que era o objectivo!
Como me dizia um bem instalado na vida conhecido meu, os fins justificam os meios, ou afinal ainda não estão tão longe os tempos, em que na TPA, uma jovem locutora dizia: “ Esta planta tem propriedades afro-asiáticas”, em vez de ter dito afrodisíacas.
Por falar em afrodisíacas, comprei no que vai restando da livraria Mensagem, um livro que tem sido passado de mão em mão, e motivador de conversas e leituras de pequenos trechos em tertúlias que frequento, que é nem mais nem menos que “Cartas para maridos temerários” de Dya Kasembe, e editado pela Nzila. Um dos grandes livros da “literatura de cordel” angolana, e que me parece um guia indispensável para todos que enfrentam ou venham a enfrentar situações difíceis. Simplesmente delicioso!
(Continua)
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